Todo Mundo Tem Um RPG Favorito
(Sim, até a sua mãe)
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E a sua mãe jogando RPG?
É, a sua mãe, aquela excelente senhora. Que classe de D&D você acha que ela gostaria? E, se ela não se interesse em decapitar goblins, que tal um RPG sobre um clube do livro de velhinhas resolvendo crimes e combatendo cultistas no litoral inglês? Ou um Velho Oeste fantástico? Que tal jogar com uma vila pitoresca, ser um horror cósmico, ou desvendar conspirações noventistas?
RPG é uma mídia, como cinema, literatura ou quadrinhos. É um jeito de vivermos histórias e entretermos uns aos outros. Você pode não gostar de Lawrence da Arábia ou de Meu Pequeno Pônei, mas duvido que iria lá gritar com cinéfilos e menininhas. Você não arrancaria Shakespeare da mão do poeta e nem Marvel da mão do nerdola, né? Não, você é uma pessoa legal. Você sabe que RPG, essa coisa maravilhosa, é para todo mundo.
E digo mais: se você jogar RPG com todo mundo, a sua vida vai ser muito melhor. Duvida?
Há 12 anos atrás, a designer de jogos e pesquisadora Jane McGonigal fez uma TED Talk sobre como jogos melhoram a qualidade de vida das pessoas. Ela amarrou os arrependimentos mais comuns de quem está à beira da morte com os benefícios comprovados de jogos (“mais eficazes que medicamentos em certos casos de depressão!”). Vai lá, dá uma olhada.
The game that can give you 10 extra years of life | Jane McGonigal
A queixa mais comum de quem quer jogar RPG é a falta de grupo (a segunda mais comum é a falta de tempo). Nossos antepassados RPGísticos sempre souberam como resolver essas duas numa cajadada só: eles ensinavam RPG para as filhas, para os irmãos e para as galinhas do quintal.
E mais: RPG é uma interação estruturada, como sair para jantar ou Verdade ou Desafio. Interações estruturadas aliviam a ansiedade social, oferecendo aos participantes um framework no qual agir, interagir e se expressar. Além do quê, RPG nos permite aprofundar relações e descobrir coisas que não sabiamos – sobre nós mesmos e sobre os outros. Mais livre do que videogames, mais social do que literatura.
É por isso que RPG é a mídia ludonarrativa perfeita. Não custa nada a não ser tempo e disposição, crianças a velhos podem participar, não requer habilidades especiais, itens extraordinários ou consoles caros.
A única coisa que RPG precisa são pessoas.
“Mas, mas, mas… por onde começar?
O melhor RPG para iniciantes é o mais interessante que você conseguir encontrar. “Mas e se for muito complicado?” Fique tranquilo; independente de quem for o incauto que você decidiu iniciar em nossas Artimanhas RPGísticas, saiba que existem coisas bem mais complicadas que essa pessoa já entendeu, como fritar ovo, operar câmbio manual e a inexorabilidade da entropia do universo. Tenho certeza que ela vai lidar bem com personagens imaginários e uma mãozada de dados.
Meu primeiríssimo narrador de RPG não teria me convidado para participar da mesa. Aos 13 anos, eu era uma menina desajeitada e agitada, e talvez não parecesse uma companheira de aventuras formidável. Foi uma jogadora, bendita seja, RPGista desde a década de 80, que achou que eu poderia gostar e me convidou (mãe ela, inclusive).
Eu nunca parei de jogar RPG desde então.
É pela menininha que quase não encontrou a sua coisa favorita no mundo inteiro, e por todas as outras menininhas e menininhos que ainda estão por encontrá-la que eu te peço: jogue RPG. Jogue com todo mundo.
Jogue com seus cunhados e vizinhos (olhe que perfeito: você pode dar espadada neles e ainda ter um jantar de natal legal). Joguem os jogos que vocês querem e os que eles querem. Joguem RPGs estúpidos, ofensivos, engraçados, dramáticos, conceituais e tradicionais.
Final de ano está chegando; que tal jogar RPG com a sua família, ao invés de Banco Imobiliário pela trilionésima vez? Até o Pathfinder tem one-shot com ficha pronta, e há um itch.io inteiro a ser explorado..
Há milhares de RPGs lá fora, galáxias deles, e você pode jogar todos que quiser. Um deles vai ser perfeito para você (ou sua tia, ou seu cunhado), com tudo que você imaginou e coisas que nem sonhou que amaria. E você nunca vai saber se não procurar.
Até lá, divirta-se com os imperfeitos. E jogue RPG.